Tuesday 1 September 2015

Natal em Agosto


O ano nem começou muito mal, apesar dos pressentimentos que me assaltavam depois de um natal em que as relações familiares soavam a teatro. Afinal, tratava-se do primeiro natal no apartamento para onde me tinha mudado há pouco menos de um mês e do último natal com a família completa que havia de ter, como viera a saber uns meses depois. Primeiro e último, palavras que indicam a ordem dos acontecimentos que marcam as nossas vidas.

 
Diga-se, de passagem, que o primeiro é sempre mais fácil de identificar, seja pelo local, seja pelas pessoas que ali o vivem conosco, seja por nada de semelhante ter acontecido antes. Quanto ao último, nem sempre pode ser identificado , somente à posteriori podemos dizer que foi o último.

 

Pois, neste caso, dois meses depois, havia de saber que era o último natal em que aquela família estava reunida. É isso doeu muito. E ainda dói, principalmente pelas crianças para quem a época  natalícia assume uma importância que mais nenhuma outra data chega a ter.

 
 Mesmo sabendo que o Pai Natal é alguém da família vestido de encarnado e com barbas brancas, compradas numa loja de um chinês qualquer, nada lhe importa.

 
Todos participam com alegria , na festa, no jantar de bacalhau com couves e almoço de peru e cabrito assado, na distribuicao das prendas, devidamente etiquetadas , sempre mais em cada ano que passa, e acabando por convidar o pai natal para uma filhós, que este aceita sempre de boa vontade.

Quando a noite acalma e a sonolência começa a dar lugar à excitação provocada pelos brinquedos novos, alguém se lembra do familiar que, por acaso , não estava presente na distribuição dos presentes, cuidadosamente guardados num canto da sala.

 
Nada faltou nesse natal que foi o último da família completa a não ser a falta de alguma espontaneidade pressentida num dos elementos da família , que fez questão em quedar-se quieto , sentado, mandando uma ou outra indirecta que os restantes, pacientemente, ignoraram.

 
E o Natal aconteceu. Sem dramas, com alegria, com presentes, doces, música e risos de crianças.

E foi o último com todos presentes, como havia de vir a saber depois.

1 comment:

Kátia said...

:-(
Espero que esteja bem.
Beijo!