Thursday 11 January 2018

Sonho desfeito...

SONHOS

Os sonhos fazem parte integrante da condição humana.
Quem é que já não sonhou ao longo da vida?
Por vezes, acredito mesmo que não poderíamos viver sem a presença do sonho, trate-se daqueles que temos , enquanto dormimos , e para os quais procuramos significado, por tão estranhos que eles nos parecem, quer daqueles que construímos , peça a peça, tentando que se concretize um dia, quem sabe…
Há quem considere os sonhos produtos da imaginação, da fantasia, do devaneio até, mas também há quem os considere simples projectos cuja execução pode ser mais ou menos difícil, mas de algum modo viável , pelo que o sonho assume algo de muito belo e agradável que desejamos a todo o custo concretizar…
Um dos maiores problemas, se não o maior que temos de enfrentar é se a concretização do sonho depende de outros que não nós mesmos, os sonhadores, ou se o sonho que parecia partilhado por outros afinal era apenas o sonho de um.
Quando tal acontece, o sonho fica pela metade ou desfaz-se como a espuma das ondas ao alcançar a areia.
Normalmente, estes sonhos desfeitos deixam marcas bem fundas, mesmo que reconstruídos no silêncio de noites mal dormidas , tentando compreender o que falhou no projecto feito com tanto afecto e segurança, passo a passo, para que passo algum, em falso, fosse dado.
E foi isto que aconteceu com Maria.
Sempre, desde que se conhecia, gostara de casitas bem pequeninas, em madeira , no meio da natureza e rodeada por espaços grandes. Um sonho que desistira de concretizar, por variadas razões, entre as quais por fazer parte exclusivamente do seu imaginário.
E Maria foi caminhando nas estradas e vielas da vida sem que o sonho a incomodasse ou perturbasse , de alguma maneira as decisões das rotas que ia seguindo, com a família.
A dada altura , com os anos de vida a crescerem rapidamente, como se a avisassem que o tempo não volta para trás, reunidas algumas circunstâncias , eis que alguém da família recorda : agora podes fazer aqui a tua casita…
E o sonho , adormecido, voltou, cresceu, tornou-se real.
A casita, pequenina, rodeada de espaço, de flores, de crianças brincando no espaço , onde baloiços e trampolins e piscinas iam sendo colocadas á medida da idade e tamanho deles.
A casita continuava pequenina mas perto de uma casa grande onde crianças e pais viviam , deixando no ar risadas conjuntas, lanches divertidos, passeatas no campo e palavras e palavras…
Cresceram as flores, as árvores de fruto, as ervas que precisavamconstantemente de ser cortadas, o cão, tipo Husky, recolhido num verão distante , porque abandonado por desconhecidos perto da auto -estrada, tornou-se um amigo e companheiro, sem sequer se incomodar com os gatos e galinhas e patos que também vieram , por acréscimo, para aquele espaço que rodeava a casita , outrora um sonho, agora uma realidade concretizada.
E anos foram passando e árvores crescendo… e um outro sonho começou a ganhar forma….
A casita pequenina, cuidada com carinho , rodeada de flores seria o lar da Maria, num tempo futuro cada vez mais próximo, onde não faltaria a alegria de poder conviver sempre com as crianças , onde a palavra solidão não seria pronunciada, onde as risadas permaneceriam, mesmo quando não lhe apetecesse rir, onde o pôr -do-sol de cores vibrantes era uma hino à vida, vivida e por viver…
Tornara-se o sonho de quem percorre as estradas do mundo , sabendo que o ritmo das pernas menos ágeis não permanecerá o mesmo de hoje…
O sonho passara a ser um desejo veemente, uma aspiração de quem caminha para velho.
Mas o sonho deixou de ser comum a todos , ou foi substituído por outro sonho de um dos habitantes da casa grande.
Num ápice, o tempo mudou e a casita pequenina perdeu o encanto do afecto, a risada de crianças, as palavras e lanches e brincadeiras que a alimentavam.
Maria ficou sem sonho, sem risadas, sem palavras e palavras.
Deixou cair lágrimas pela face, arrumou as suas coisas , fotografou as flores, as ervas,
os espaços e mudou…
O sonho desfez-se… E Maria vai reconstruindo outros …



No comments: