Monday 20 August 2007

Eu e o Mar

Marés vivas a 15 de Agosto na minha praia.

Há gente que precisa das coisas mais comezinhas para se sentir bem. Eu preciso do Mar.
O Mar emerge diante de mim como o infinito azul, vivo que acolhe todos os meus sonhos e desencantos, todas as minhas angústias e alegrias.
Passear na areia pisada pelas águas revoltas das ondas de espuma sem ninguém no areal imenso, em Agosto apinhado de homens, mulheres e crianças, é o melhor sedativo para uma alma angustiada, é o melhor revigorante para uma alma que ainda não desistiu de viver, embora por vezes, as suas águas de calmas pareçam convidar-nos a entrar nelas e a deixar-nos ir até lá ao longe que não vislumbramos mas imaginamos…
Se pudesse escolher o modo de partir definitivamente desta terra, acho que escolhia as águas do mar. Ainda tenho bem presente a cena do filme “As Horas” em que a Nicole Kidman avançava calmamente pelas águas do rio, serena, decidida por se recusar a viver a vida que queriam que vivesse. Aquela cena ficou bem guardadinha nos recônditos do meu eu, talvez pela minha auto identificação com aquela insatisfação.
Afinal água é fonte de vida, é fluir, é transformação permanente e a vida não é mais que um fluir de um estado a outro… A vida opõe-se à morte? Duvido. O mar traz-nos vida, alegria, paz, música, cor e ritmo mas quando revoltas, bravas, insatisfeitas as ondas inundam a costa, alagam as margens, arrastando consigo tudo quanto se encontra à sua frente. Talvez seja esse o fascínio do mar: a vida e a morte, a força bruta que não se deixa dominar, as cores do azul mais claro ao esverdeado, do branco da espuma ao cinzento escuro em dias de tempestade, sem nunca perder a beleza, mesmo quando transporta infelicidade para outros.
Mas não sabemos nós como a beleza é tantas vezes fatal?
(palavras escritas em Abril de 07)

3 comments:

eduardo jai said...

Gostei. MUITO.

:)

Kátia said...

Nossa! O Mar é o meu alimento primordial.Se estou triste vou conversar com ele.Se estou alegre caminho pela praia a catar minhas conchinhas,molhar meus pezitos e banhar-me também.Se não estou nem triste nem alegre...Vejo o Mar também!
Quando estou em cidade que não tem Mar me sinto sem um pedaço de mim.

Vou deixar este que lembrei agora:
***
OBSESSÃO DO MAR OCEANO

Vou andando feliz pelas ruas sem nome...
Que vento bom sopra do Mar Oceano!
Meu amor eu nem sei como se chama,
Nem sei se é muito longe o Mar Oceano...
Mas há vasos cobertos de conchinhas
Sobre as mesas... e moças na janelas
Com brincos e pulseiras de coral...
Búzios calçando portas... caravelas
Sonhando imóveis sobre velhos pianos...
Nisto,
Na vitrina do bric o teu sorriso, Antínous,
E eu me lembrei do pobre imperador Adriano,
De su'alma perdida e vaga na neblina...
Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano!
Se eu morresse amanhã, só deixaria, só,
Uma caixa de música
Uma bússola
Um mapa figurado
Uns poemas cheios de beleza única
De estarem inconclusos...
Mas como sopra o vento nestas ruas de outono!
E eu nem sei, eu nem sei como te chamas...
Mas nos encontramos sobre o Mar Oceano,
Quando eu também já não tiver mais nome.

Mário Quintana

;)
Lindo post.Fiquei inspirada...e também emocionada.
Obrigada!
Beijo!

Manela said...

Obrigado pelo poema. Obrigado pelas palavras. Um Abraço para vocês.