Thursday 12 December 2013

Na hora da grande viagem...

Sentada no café , onde o meu cunhado gostava de beber o bagaço , sempre que vinha a Portugal , o que aconteceu há pouco mais de um mês. A está hora, lá longe, em Berlim, ele deixa definitivamente a terra. 64 anos , que fez questão de festejar com toda a família, no dia 5 de Outubro, aqui , neste  país a que tencionava voltar no próximo ano para viver, finalmente, com a paz e alegria exuberante que o definiam. Foi louco durante anos e anos, mas, apesar de tudo, era feliz e sentia - se senhor da sua própria vida.  Tinha encontrado o amor junto da Romi, berlinense mas a vontade de voltar para aqui unia-os. Fizeram planos, sonharam com anos de amor neste pais e, nos últimos anos vinham cá , regularmente, preparando a vinda para depois. 
A Alemanha de hoje, com Merkel, despertava  nele uma raiva que fazia explodir em palavras . Contava anedotas sobre a Alemanha com uma graça que superava as que se contam dos alentejanos. A boa disposição dominava com a presença dele e as piadas, sempre presentes. Reconhecia os erros cometidos ao longo da vida ( em maior ou menor grau de intensidade, quem os não comete?),  mas , em vez de chorar sobre eles, soubera extrair das suas vivências as lições que lhe permitiam sonhar . 
Um cansaço súbito e um coração, mais cansado do que ele podia imaginar, traíram os seus sonhos. Partiu, e hoje, dia 12 de Dezembro, deixa esta terra, onde eu vi, pela primeira vez a luz do dia, há muitos anos, também bem longe daqui, numa cidade na Beira Baixa, de granito, fria mas que foi o meu berço. 
Aqui, bebo o meu café, fumo um cigarro e penso em ti, nos sonhos que acalentavas, no desejo que tinhas de voltar. Não bebo nenhum bagaço. Olho o céu cinzento que ,apesar de cinzento, tinha uma cor que tu não podias ver em Berlim. Aqui, a luz era mais intensa, o céu mais azul, a praia era  grátis e as pessoas falavam umas com as outras. Nunca te sentiste alemão e nunca pensei que abandonasses a terra no dia do meu aniversário. Se encontrares o meu pai, que também partiu num dia de aniversário do meu filho, e a minha mãe, que também , este ano, em Maio, me deixou, junta-te a eles e diz-lhes que me fazem todos muita falta. Jamais me esquecerei de vocês e, sei que um dia também hei-de partir. 
Um último beijo para vocês. 



4 comments:

Kátia said...

Para ele:Tenho a certeza que foi embora com a missão cumprida de que deixou lembranças boas para que sejam revividas com alegrias.

Para ti:Só desejo MUITA SAÚDE para que continues VIVENDO e aproveitando com plenitude as boas coisas que a vida nos proporciona.Força!Essa "viagem" faz parte da nossa passagem aqui na Terra.

Um beijo e muitos cheirinhos carinhosos.

Manela said...

Como sempre, palavras doces... Beijinhos

Kátia said...

:-)

Anonymous said...

Um friozinho percorreu-me de alto a baixo enquanto lia o post. O que relata é-me muito familiar. Por ter vivido situações dessas, deixei de fazer planos e fico à espera que a vida aconteça.
Eu sei que não é a decisão certa, mas é a possivel.
Permita-me um abraço solidário