Faz hoje 40 anos que as notícias esperadas não chegaram. Eu era, então, a namorada do jovem alferes que estava na Guiné. Estranhando o silêncio, tentei por todos os meios contactar Bissau. Silêncio. O desespero ia tomando conta de mim. A angústia começava a dominar-me a par da raiva e ódio ao governo que não era capaz de pôr fim á guerra, que a pouco e pouco , lentamente ia matando os nossos jovens. Foram 10 dias de incerteza, de medo, de dor.
Por fim, a notícia veio, num aerograma amarelo, meio amarrotado, com uma letra bem pequena, toda incerta. Uma mina anti-carro tinha atingido o unimog onde o jovem alferes ia. Estava em coma no Hospital de Bissau. Recordo que, apesar das lágrimas e da dor, um sentimento de esperança se aninhava em mim: estava vivo o meu namorado.
Foi há 40 anos. Há memórias que não se esvaiem, mesmo que com o tempo aprendamos a lidar com elas.
Ainda hoje, os sentimentos de revolta por uma Guerra que jamais compreenderei, me assaltam.
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