Thursday 20 July 2017

Esperando....

A cor cinzenta domina a cidade neste dia de verão... O calor parece ter- se escondido para descansar ou fazer-nos recordar que agosto não é sinónimo de quentura.
No café, sentada na esplanada com uma única mesa para fumadores, aguardo a chegada  n. , enquanto observo o movimento escasso na rua e no próprio hospital, sempre a abarrotar de gente. Uma ecografia de rotina é a causa desta vinda a uma cidade onde vivi muitos anos, onde os meus filhos nasceram, que sinto um pouco minha. Aqui , foram muitos os momentos de alegria e tristeza, porque aqui vivi. E a vida é assim mesmo... Uma miscelânea de sentimentos que nos enchem, permanecem, saem sem que nós façamos por isso. Os acontecimentos sucedem-se, vão caindo ao longo dos caminhos que trilhamos dia a dia , hora a hora, enquanto o coração ainda bate.
Agora mesmo, um homem, ainda jovem, talvez com trinta e poucos anos, usando umas bermudas de ganga como as de todos os jovens que circulam por aí, fazendo turismo ou simplesmente vagueando é uma t-shirt cinzenta, vulgaríssima, me pediu um cigarro, com a educação de um desempregado e a delicadeza de um cavalheiro. Esta terra  não é para velhos, o título de um excelente filme, visto há anos , de Cohen . Hoje, poder-se-ia fazer um novo filme  de problemática semelhante, mudando a idade dos protagonistas... Esta terra não é para jovens . 
O sol espreita , por entre as nuvens, morno ainda, enquanto o cavalheiro de cabelos grisalhos, aguarda  que alguém lhe traga as chaves esquecidas no bengaleiro do hall da casa, num andar do prédio, junto à esplanada onde estou e que ele pede, com voz educada através do intercomunicador.
As chaves já chegaram, nas mãos de uma mulher mais jovem, possivelmente empregada da casa. O homem agradeceu, e com as chaves na mão, foi pela rua, ladeado de árvores floridas, avistadas daqui e já fotografadas. 
A senhora, colaboradora do café, como agora se diz, vem perguntar-me se já acabei a meia de leite , pedida e na mesa ao lado do cinzeiro que tira e substitui por outro, limpo. 
Não acabei ainda. E ela vai para dentro , atendendo outros clientes , esperando junto ao balcão. Pressinto que ela estranhou o meu tempo , aqui fora, e veio apenas confirmar a ainda minha presença. Afinal, se eu partisse, sem pagar, ela teria de desembolsar o dinheiro perdido pela senhora, que parecia de boas contas. A senhora sou eu. Não, não parti e continuo à espera do N. 
Apesar da pouca gente que andava pelo hospital, o tempo continua longo, como sempre, nestes locais ditos para reparar ou prevenir doenças que não escolhem sexo, nem idade. Talvez haja poucos médicos. É agosto, mês de férias, de praia, de sol que hoje se escondeu. Espreita, espreita, mas não sai do abrigo nublado. 
Espero. Escrevo. As palavras fluem como a água que não vejo, porque está longe, lá para S.Pedro de Moel, onde tenho passado momentos de paz interior muito valiosos. 
À espera está a chegar ao fim do caminho. O telefone avisou-me. Vou acabar a meia de leite e guardar as palavras para mais tarde. Até já. 

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