O ano
nem começou muito mal, apesar dos pressentimentos que me
assaltavam depois de um natal em que as relações
familiares soavam a teatro. Afinal, tratava-se do primeiro natal no apartamento
para onde me tinha mudado há pouco menos de um mês e do último natal
com a família completa que havia de ter, como viera a saber uns
meses depois. Primeiro e último, palavras que indicam a
ordem dos acontecimentos que marcam as nossas vidas.
Diga-se,
de passagem, que o primeiro é sempre mais fácil de identificar, seja pelo local, seja pelas
pessoas que ali o vivem conosco, seja por nada de semelhante ter acontecido
antes. Quanto ao último, nem sempre pode ser
identificado , somente à posteriori podemos dizer que
foi o último.
Pois,
neste caso, dois meses depois, havia de saber que era o último natal em que aquela família estava reunida. É isso
doeu muito. E ainda dói, principalmente pelas crianças para quem a época natalícia
assume uma importância que mais nenhuma outra data chega a ter.
Mesmo sabendo que o Pai Natal é alguém da família vestido de encarnado e com barbas brancas,
compradas numa loja de um chinês qualquer, nada lhe importa.
Todos
participam com alegria , na festa, no jantar de bacalhau com couves e almoço de peru e cabrito assado, na distribuicao das
prendas, devidamente etiquetadas , sempre mais em cada ano que passa, e acabando por convidar o pai
natal para uma filhós,
que este aceita sempre de boa vontade.
Quando
a noite acalma e a sonolência começa a dar lugar à excitação provocada pelos brinquedos novos, alguém se lembra do familiar que, por acaso , não estava presente na distribuição dos presentes, cuidadosamente guardados num canto da
sala.
Nada
faltou nesse natal que foi o último da família completa a não ser a
falta de alguma espontaneidade pressentida num dos elementos da família , que fez questão em
quedar-se quieto , sentado, mandando uma ou outra indirecta que os restantes,
pacientemente, ignoraram.
E o
Natal aconteceu. Sem dramas, com alegria, com presentes, doces, música e risos de crianças.
E foi
o último com todos presentes, como havia de vir a saber
depois.
1 comment:
:-(
Espero que esteja bem.
Beijo!
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